Há pouco mais de uma semana, eu caí. Estava correndo com meu cachorro, ele se meteu na minha frente, e eu caí. Na hora, sabia que algo tinha acontecido com meu braço.
Enquanto agonizava, urrando por ajuda no chão da garagem aberta do meu prédio, me ocorreu um pensamento: eu sou gorda.
Enquanto alguns chegavam em desespero para tentar me ajudar, eu pensava "ninguém vai aguentar me tirar daqui".
Eu chorava de dor, de susto e de medo.
De dor, porque mal sentia meu braço. Tinha algo torto lá dentro.
De susto, pela queda, pelos 3 segundos que chutaram minha vida pro alto e que antecederam o que vieram a ser alguns dos meus piores momentos de vida até então.
Medo de que tudo fosse mais difícil por eu ser gorda.
Meu marido chegou, minha mãe chegou, a moça do conselho dos condôminos também. Chamaram os bombeiros.
Quando os dois chegaram e me disseram que eu teria que ser levada, tinha certeza que eles estavam bufando. A gorda cai, e ainda a gente tem que levantar.
Na hora de me içar, acho que seis pessoas ajudaram.
Eu me lembro, inclusive, de me desculpar por ser gorda.
[Eu juro que senti a tábua quebrando.
Cheguei no hospital, e fui socorrida,
Imobilizada,
Examinada,
Levada pro quarto.
Horas depois, o ortopedista apareceu,
dizendo que a solução era cirúrgica,
Mas que tava tudo bem, já que eu sou novinha.
"19 anos, não tem nada,
pena que é gordinha."
Pena.
Mudei de hospital,
aquele tava ruim.
E veio o cirurgião me examinar.
O homem não sorria.
Mediu meu osso com a mão, e disse que era cirúrgico, não tinha jeito.
"É uma fratura que não sara com gesso,
e aí é um lugar difícil de imobilizar,
inda mais com seu braço gordinho assim como é."
Assim como é.
Passei dias, então, completamente pelada,
marcada dos lençóis do leito.
Assim, coberta como dava.
Me olhando caída, cansada, triste.
Triste.
Triste.
E ainda teve
a implicância
sobre eu não querer perder meu tempo de vida
depilando minhas axilas.
- E aí, não depila mais?
- não, é desnecessário.
- É higiene!
- e por que homem não depila?
- Porque é diferente.
- não é.
Minha intimidade foi exposta, meu corpo questionado. Minha maior alegria eram as enfermeiras.
Saí insegura disso, pensando que, no final das contas, eu deveria mesmo emagrecer.
Mas recobrei a consciência logo.
Gorda, me sinto empoderada. Me sinto a favor de uma causa.
Me sinto parte de algo diferente.
Não me venha com "vida saudável",
os doentes são os outros.